segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O céu azul que fez naquele dia não me deixou nada feliz. Eu costumava celebrar dias ensolarados. Ia ao parque com meus amigos e ficávamos nos divertindo por lá até o sol se por, mas naquele sábado preferia que estivesse chovendo muito, queria até que tivesse caído o maior temporal, então as estradas provavelmente estariam interditadas, ou talvez ventasse tanto a ponto de fazer meu pai desistir de deixar a cidade.  Eu torcia pra que qualquer coisa acontecesse, então não teria que deixar meus amigos para trás.
É óbvio que todo argumento que dava a meus pais na tentativa de fazê-los desistir da ideia de se mudar era inválido. É engraçado como eles pedem a nossa opinião e nos fazem acreditar que realmente a levam a sério quando no final das contas eles fazem tudo da maneira como querem, ou sempre quiseram. Bem, se a nossa opinião não é assim tão relevante, porque exigi-la? O que talvez seja uma estratégia de fazer que nos sintamos levados em consideração, acaba por afirmar que nossos desejos são quase inválidos.
Gastei as ultima horas que tinha na cidade dando abraços em meus amigos e familiares. Thomas me deu um golfinho de pelúcia que ele provavelmente havia comprado nas lojas de suvenires perto da marina. Mandy me deu uma pulseira que ela comprou outra igual pra usar também. Kyle prometeu me ligar e Suzi me disse que sempre estaria no Skype. Aguardei por Michael até a última mala ser colocada no bagageiro do carro.
É, tinha o visto poucas vezes naquela semana, e fazia tempo que ele não respondia mais minhas mensagens. No fundo eu já sabia que ele não apareceria, mas por outro lado sentia um frio na barriga quando pensava que poderia o abraçar pela última vez. Mas ele não apareceu e senti um desespero imenso quando fechei a porta do carro e vi tudo ficando pra trás. Era isso, nunca mais nos veríamos, talvez nem por um acaso, e sei que não tinha direito de achar toda essa situação injusta comigo, afinal foi eu que o magoei, eu que parei de mandar as mensagens, eu que o chamei de imaturo e disse que nunca mais queria o ver e mesmo assim ele continuou sendo fiel e gentil comigo, realizando meu desejo e não aparecendo nesta noite, então eu deveria estar agradecida com isso certo? Mas tudo que fiz foi deixar as lágrimas que me restavam, escorrerem do meu rosto em direção ao banco do carro.
As muitas horas de viagem só serviram pra deixar meu rosto ainda mais inchado, minhas pernas dormentes, e meu desespero diante de tudo ainda maior. Meu pai tentava amenizar tudo repetindo mais uma vez como eu teria mais oportunidades agora que iriamos para uma cidade grande, que ele teria mais tempo pra ficar em casa, e que eu deveria estar feliz já que ia ter um quarto maior.
Mas eu não teria mais oportunidades, mamãe me prenderia em casa o quanto pudesse com medo da violência, meu pai na verdade trabalharia o dobro e centímetros a mais ou a menos em um cômodo não trariam meus amigos para perto de mim.
Quando finalmente chegamos, já era de noite, e já queria voltar pra minha casa e dormir na minha cama. Mas não voltei, em vez disso chorei a noite toda deitada em um colchão inflável perdido no meio de meu novo quarto de metros quadrados a mais.


-Gabrielli Almeida